quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Narrativa cujo personagem é tido como portador de necessidades especiais por seus professores




Foi como um soco no estômago. Ao término do capítulo em que seus professores queimam seu cavalinho de pau por terem encontrado piolhos na "crina" do seu Charlie eu me perguntei: Por que nós professores somos tão perversos? Por que nos é tão difícil lidar com as diferenças? Por que insistimos em esperar dos estudantes os mesmos comportamentos? A narrativa é ambientada numa cidade da Dinamarca e por isso, a universalidade dos comportamentos dos professores foi o que mais me impactou , bem como a constatação de que no caso de Buster - e de quantos mais ?-, os que praticam bullying contra ele não são seus colegas de escola. São justamente os que deveriam prepará-lo para a vida.

Fazia tempo que um infantojuvenil não mexia tanto comigo. Lê-lo foi uma experiência que foi adquirindo várias tonalidades, isso no decorrer de uma manhã, que foi o tempo que levei para me apropriar da sua história. As palavras apropriar e história com h foram propositais: valer-me da palavra devorar seria um ato de violência contra essa narrativa tão sensível, muito próxima de O pequeno príncipe e O aprendizado de Pequena  Árvore. História porque Buster é muito real, há uma porção dele em cada uma das escolas que pululam no planeta...

Buster é um menino muito diferente, ele sente, vê e interage com a realidade de um jeito muito seu, muito diverso de todos os demais que o rodeiam e daí surgem os problemas. Não quero dissecar o livro porque compactuo com o autor de Os livros e os dias: isso de ir contando todo o livro estraga a surpresa. Deixo que cada leitor descubra a sua história ao ler este livro.

Aconselho-o a todo professor. Eu não dava muito por ele, acreditei que seria apenas mais um livro para os jovens e só o elenquei como meta de leitura porque algumas crianças da escola em que leciono o receberam no ano passado - Programa Minha BIblioteca- e eu queria saber o que andam lendo. Foi uma grata surpresa. Se eu fosse coordenadora de escola eu faria com que fosse lido nas reuniões coletivas. Como não sou fica a dica. Imprescindível. Um livro assim eu gostaria de ter escrito.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Clube da Fênix - o projeto do clube de leitura na escola


                                                                            Profa Eliana


























       SALA DE LEITURA: AMBIENTE DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES




















                                                 São Paulo – 2012




















         SALA DE LEITURA: AMBIENTE DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES












                                                                                                                                                                     Projeto de formação de leitores em sala de                                                          leitura , séries finais do fundamental.








                                       São Paulo - 2012
                                                  


                                                        SUMÁRIO


Síntese da experiência.................................................................... 4

Título...............................................................................................  4

Justificativa ..................................................................................... 4

Objetivo geral .................................................................................. 5

Metodologia..................................................................................... 6

Avaliação ........................................................................................ 7

Anexos ........................................................................................... 12



































Síntese da experiência

O projeto em que se constitui este texto relata uma experiência de reformulação de práticas de atendimento em formação leitora realizadas na sala de leitura da EMEF Dom Paulo com educandos dos anos finais da ciclo I ( 4ª e 5ª séries) nos anos 2011 e 2012.

Título:

 Sala de leitura: ambiente de construção de identidades

    Justificativa

A decisão de realizar este trabalho nasceu em fevereiro de 2011, no momento da socialização dos resultados em proficiência leitora obtidos pelos educandos do fundamental II nas provas externas (Prova Brasil, Prova São Paulo). A escola, na zona leste de São Paulo, tem cerca de 1600 estudantes, entre crianças, jovens e adultos, distribuídos em 4 turnos. Professora orientadora de sala de leitura e apaixonada por livros, sabia que a chave para o desenvolvimento da competência leitora está na leitura de livros e não na realização de exercícios semelhantes aos das provas externas.
Por que os jovens de sexta, sétima e oitava séries obtêm os piores resultados,
são os que menos leem, os que menos gostam de livros, os que menos emprestam livros? Estava insatisfeita com a identidade minha e da sala de leitura. Quais nossos papéis na formação leitora das turmas que recebemos semanalmente? Sentia-me pouco produtiva, não tinha claro qual minha contribuição. Preparava aulas sobre livros de acordo com o currículo de cada série, buscava músicas ou filmes que funcionassem como aquecimento para a entrada no mundo da leitura. Achava minhas aulas muito expositivas. Questionava se tinha de dar aulas de leitura. O que eu tinha de fazer era com que lessem mais na escola e em casa. Mas como fazer isso?
 Também não me agradava receber tantos a cada vez - 24 turmas por semana, com 32 educandos cada uma - e não conhecer seus gostos, desejos, experiências, mesmo os nomes. Um entra e sai de crianças e jovens de diferentes idades e eu sem saber concretamente o que ficava neles. Eu não tinha muito claro o que faria, mas decidi refazer o percurso que fiz quando estudante, que lia com as amigas, os livros que elas me indicavam, os livros que meu professor de Língua Portuguesa da sétima série trazia de casa, porque percebeu que gostávamos de ler. Decidi começar o trabalho me preparando, estudando. Em 2011 li Andar entre livros, e Como um romance. O primeiro chamou minha atenção para algo inexistente em nosso meio, que a autora diz existir na Espanha, que é o trabalho com os gêneros literários sistematizado, percorrendo todos os anos do fundamental. Pareceu-me que as escolas de lá dedicam um tempo para ler com e para as crianças este e aquele livro, conforme o acordado pelos educadores. Na escola em que atuo, o trabalho é pontual, mais presente nas séries iniciais, e praticamente inexistente nos anos posteriores. Os professores acreditam que por ser a literatura contemplada nos livros didáticos, o trabalho com literatura já está contemplado. Daniel Pennac me chamou a atenção para a necessidade de continuar lendo para os educandos, mesmo já sendo eles alfabetizados, porque saber decifrar o código não garante fruição do texto e porque precisam ser guiados para esse ou aquele gênero, para o mistério, prazer e companhia em que pode se constituir um livro.
 A leitura e os jovens, de Michèle Petit encheu-me de ânimo. Vi que a coisa era muito maior. A autora fala no papel da leitura na formação da identidade dos jovens, de como ler os protege da marginalização e dos seus malefícios, de como ler dá a eles voz e mesmo um lugar seguro; a possibilidade de escolher seu destino, adquirir saber, vocabulário. Já tínhamos tido suicídio, jovens envolvidos com drogas e mesmo mortos por traficantes. Já tínhamos tido uma morte por fome, crianças que cursam a 4ª e a 8ªsérie duas, três vezes, gravidezes. Não se tratava apenas de ir bem numa prova, mas de ir bem na vida. Havia algo que eu podia fazer. E fui me enchendo de ideias e planos, que fui anotando e organizando nas margens dos livros que lia.
O estudo me tornou mais atenta. Eu não me senti à vontade com O Caderno de orientação que nos foi entregue pela Secretaria de Educação, que pede que o trabalho em sala de leitura esteja em conformidade com o currículo, que sugere que a dificuldade do trabalho na sala de leitura tem por causa as diferentes áreas a que pertencem os orientadores de sala de leitura, que assemelha identidade a padronização (a proposta para todos os OSL de formarem clubes de leitura, como sendo essa uma proposta de construção de identidade) como se nós não tivéssemos uma, ou melhor, como se cada local, cada grupo cultural em que se constitui cada comunidade escolar não tivesse suas especificidades, suas identidades. Eu pensava: “Qual a concepção de currículo, de leitura, de identidade desse caderno? Por que limita o papel da leitura como meio para o aproveitamento escolar? Eu tinha receio que as crianças vissem a ida à sala de leitura como mais uma aula. “Se as crianças e os jovens associarem os livros à lição, à sala de aula, não se tornarão leitoras, não desenvolverão paixão pelo livro.”
Eu sabia que tinha de desenvolver um trabalho que focasse os anos finais do primeiro ciclo, pois nessa fase, começa a puberdade, novos interesse vão surgindo, os livros infantis já não os atrai e os infantojuvenis são considerados grandes, volumosos. Aos 10, 11 anos os empréstimos de livros vão começando a diminuir, a leitura vai se reduzindo, salvo exceções, aos textos didáticos.
Buscando cuidar dessa faixa etária, tendo sob minha responsabilidade apenas 4 turmas das sete 4ªséries ( uma é de alfabetização, as outras três , bem como os de 5ª série, são de outro período), decidi criar um clube de leitura para os educandos dessas séries, que começou a funcionar em fevereiro/2012 com empréstimo de livros do acervo do clube e de junho em diante com encontros quinzenais.

Objetivo Geral

Promover o gosto pela leitura de textos literários entre os educandos das quartas e quintas séries, uma vez que leitura e a literatura preparam os jovens para resistir à marginalização, ajuda-os a construir uma identidade individual, a encontrar um lugar no mundo, a pensar, a construir um vocabulário, a elaborar as tensões internas e externas.







Metodologia

2011 - Eu já sabia o que queriam ler: Harry Potter, Crepúsculo, Desventuras em série, Como treinar o seu dragão, Diário de um banana, A bússola de ouro, O ladrão de raios, muito procurados. A escola tinha alguns exemplares do Harry Potter. Decidi fazer um experimento. Comprei a coleção e li os dois primeiros. Não eram tão ruins como imaginara. Reminiscências de Mark Twain, de mitologia grega, dos contos de fadas, e até de Dickens. Eu bem podia ir conduzindo os meninos para esses autores.
Quem é leitor está sempre falando de livros, encontrando outros que cultivam da mesma paixão. Vanessa, uma das inspetoras da escola, é apaixonada pelo Harry Potter e em nossas conversas sobre livros ela sempre falava dele. Quando dos lançamentos dos dois últimos filmes, ela insistiu que eu os fosse ver e o fiz. Enquanto assistia ao último, em plena escuridão da sala dei-me conta de que nossa escola nunca tinha contemplado esse fenômeno editorial entre os jovens, apesar do interesse deles por esses livros. Saí do cinema decidida a fazer uma festa do H. P. Bolei um enigma com base no primeiro livro. Fiz ampla divulgação: participaria da festa quem solucionasse o desafio. Tinha previsto 50 convidados, mas foram mais de 70 os inscritos e dividi-os em duas festas, que foram realizadas em novembro (crianças numa, adolescentes noutra). Na festa vimos trechos do filme, lemos trechos de outros livros cuja temática ou enredo assemelhados ao HP, ouvimos relatos dos leitores dessa série. Foi na festa que lancei o convite para a criação do clube de leitura do Harry Potter. Colhi nomes dos interessados e acordamos obter doações dos títulos desejados. O clube de leitura atenderia aos anseios dos jovens e à orientação recebida pela rede, que desde 2010 aposta nos clubes de leitura dentro das aulas na sala de leitura. Eu era contra, achava impossível criar 24 clubes de leitura. Como eu os acompanharia? Onde encontrar o número de títulos, onde encontrar tempo para lê-los todos? Mas um clube, cujos componentes eu pudesse formar para atuarem como mediadores de leitura me parecia uma ação possível.
2012 – continuamos a recolher livros para o clube, que os de 4ª, 5ª série vinham pegar comigo (revezamento) minutos antes da entrada deles em sala de aula.
 O clube - Eu não queria anotar o empréstimo. Meu professor nunca anotou que livro me trazia. Só falava um pouco dele e me entregava. Eu queria fazer do mesmo jeito. Queria a liberdade do experimento. Divulguei o clube entre as quartas e quintas. Apareceram muitos das quartas, seis das sétimas. O clube começou em junho deste ano, com 13 crianças e hoje tem trinta inscritos, vinte e cinco frequentes. Os encontros são quinzenais. Consegui mais livros com o acervo que a prefeitura comprou. Dei a maior sorte! Toda a série do Diário de um banana, do Como treinar o seu dragão, mais dois ou três Harry Potter. Consegui baratinho no sebo do bairro exemplares do Mau começo (os três primeiros episódios do Desventuras em série). Recebemos 20 exemplares lindos de A carta roubada, de E.A. Poe e lemos um pouco a cada encontro, às vezes com lanternas (que vimos no filme Sociedade dos poetas mortos, no primeiro encontro e decidimos adotar). Vou apontando a contribuição desse autor para os livros de terror, mistério e suspense que eles tanto apreciam. Primeiro devoram esses títulos, depois vão tomando o gosto em ler e vão se aventurando noutras páginas. Nos encontros, falamos do que lemos,  seja oralmente, seja por teatro mudo ( quem assiste tem de descobrir de que livro se trata). Sempre em roda. Decidimos tudo juntos, eu só coordeno. Cinco crianças pediram para entrar, três são meninas que cursam a quarta série pela segunda vez, uma está se alfabetizando ( também é da quarta-série), um menino da sexta-série têm problemas de indisciplina. Quiseram entrar, aceitamos. Trazemos comes e bebes, fazemos amigos, bolamos intervenções na escola. É natural. Quem lê quer agir. Estamos elaborando um livro de poemas de autoria dos da escola e um jornal do clube, com relatos de nossos encontros, leituras e projetos. Está em processo a dramatização de uma cena do livro A ordem da fênix, porque foi desse livro que eles tiraram o nome do clube (O clube da fênix) e a organização da feira de troca de livros. A cada encontro um deles fica responsável pelo registro escrito, outro pelo registro fotográfico. Os 90 minutos dos encontros quinzenais nem dão pra tanta coisa que querem fazer. 7 deles já atuam lendo para as crianças das 1ª, 2ª e 3ª série, tombam livros, organizam as prateleiras, são monitores atuantes.
Pedi às meninas do clube que escrevessem uma carta solicitando às mães que lessem os livros do Programa Minha Biblioteca para seus filhos de 6 e 7 anos. Por 3 tardes, durante não mais que 15 minutos cada, antes de entrarem para a aula, Dalila
(6ªsérie) e Lívia (4ªsérie) vieram se sentar na sala de leitura, planejar a carta. Bolaram um poema, que caiu no gosto dos professores todos. A carta foi distribuída não só para o fundamental I, mas também para os dois primeiros anos do fundamental II.
Decidi manter a sala de leitura aberta nos quinze minutos que antecedem a entrada do período deles, - o terceiro -, para que pudéssemos nos ver, já que os encontros são quinzenais. Eles vêm pegar livros, vêm me ajudar a organizar o espaço, guardar livros, conversar sobre livros, escolher livros para lerem para os pequenos (atividade Lê pra mim, em que os maiores lêem para as crianças de primeira série e relatam suas leituras para os de terceiras). São os do clube, são os que não são do clube, mas querem participar das atividades deles.



 Avaliação

Como o clube ganhou força neste semestre, quando passamos a nos reunir, eu me perguntei se já dava para aferir resultados, se é possível medir leitura. Sei que ela provoca impactos na vida do leitor, mas me perguntava se tais impactos não implicam numa certa passagem de tempo. Conversei com os professores dos que frequentam o clube. Com exceção do Lucas, da Ellen, Débora, Joyce, Sofia, todos já são considerados bons alunos. O livro de comissão e as tarjetas comprovam isso, as notas deles são P ou S. A professora Luciana, de Artes, disse que os do clube são mais maduros, independentes, criativos. A professora Eliana R. disse que os dela que frequentam o clube são mais solidários e mostram comportamento leitor (quando terminam as atividades, tiram o livro da bolsa). Simone, professora de Matemática disse o mesmo (colhi depoimento delas, em filme). A procura das crianças com dificuldades escolares pelo clube demonstra que essa é uma estratégia que pode funcionar para essas crianças.
Leitores de livros maiores nas 4ª séries: de 30 em cada sala, cerce de 11em cada uma já lêem livros com mais de 50 páginas (por que também fiz um trabalho parecido com o do clube nas aulas, coloco-os em roda, coloco livros maiores no tapete e leio ou relato conteúdos deles, deste modo, consigo com que e em cada encontro levem livros maiores). Esses dados eu os obtive ao quantificar os que escrevem ou falam sobre o que leram ao longo do ano. Os de quarta-serie que freqüentam o clube já leram no mínimo três livros de 100 páginas.
Nosso acervo começou com menos de 20 livros, hoje temos mais de 40 e eles querem mais.
Débora, que cursa a quarta série pela segunda vez, veio me ver no seu intervalo. Enquanto eu organizava os livros na estante ela falava. Que lia Crepúsculo. ‘O que está achando?’ ‘Eu gosto, coloco o filme pra ver e vou virando as folhas, tentando achar em que parte está’. Estranhei, ‘Por que?’ ‘É que eu não sei ler inglês. Gelei. Tinha levado um exemplar em inglês do livro para mostrar num dos encontros do clube (ela faz parte do grupo), ela queria tanto ler o livro que levou assim mesmo. No dia seguinte, levei um em português para ela. Ela e outros, eu noto, carregam com orgulho os livros, como quem adquire um status por ler este ou aquele título.
Questionar meu trabalho, traçar uma meta, ler para entender os jovens e o papel da leitura na vida deles e minha, prever passos, mapear ações, planejar novos passos, eu posso dizer, tem contribuído em muito para a construção de uma identidade mais positiva da sala de leitura, minha, dos educandos e da leitura. A trajetória está só no começo, mas já tem um destino e um roteiro. Essa trajetória de estudos, de leituras dos livros para jovens, de documentação do processo, de perceber como não me valia da máquina fotográfica, da câmera, dos recursos tecnológicos, e de ir pedindo a cada encontro que começassem a usar seus celulares para também registrar... De como o clube está nos ensinando a lidar com as tecnologias, de chamá-los para auxiliar os menores e os pais na formação leitora deles. Não posso analisar em números, mas vejo que nosso dia- a- dia e nossa atuação na escola está se reconfigurando. Nesse bimestre, fiz algo que jamais teria feito noutros anos, ainda mais sozinha. Pedi espaço nas reuniões de pais e na dos professores. Na primeira conversamos sobre leitura e lemos. Na segunda, apresentei a toda a escola o projeto, pedi parcerias.  Nas duas ocasiões, cheguei cedo, montei o equipamento apresentei, ouvi considerações (que não filmei todas porque as pessoas ficam inseguras – a Angélica, professora de Geografia, disse ao ouvir o relato da Lívia: “Nossa! Essa menina leu mais eu a gente!” – achei o máximo).
Eu sou outra professora hoje. E gosto do que estou sendo.

AVALIAÇÕES DOS PARTICIPANTES
Foi da leitura de um dos textos de Roseli Sayão, publicado na Folha de São Paulo, que decidi pôr no projeto os depoimentos dos participantes. Ela diz, e com razão, que a escola não ouve os estudantes.


Em 08 de outubro de 2012 (por escrito)

1.Por que você quis participar do clube?

“Por que eu queria conhecer livros.” Andressa (6ª série)

“Por que eu amo, adoro ler, parece que eu viajo no livro, ele se tornou meu amigo.” Dalila (6ª série)

“Eu amo muito ler desde os meus quatro anos de idade.” Dayane (5ª série)

2. Desde sua entrada no clube, quais livros você já leu?

“A ilha perdida, Crepúsculo.” Andressa

“Como viver para sempre, O ladrão de raios, Desventuras em série - os três, Crepúsculo, Os três irmãos, Christiane F, Harry Potter e a câmara secreta, Quadribol”. Dalila.

“Harry Potter, Matilda, das Desventuras em série O mau começo”. Dayane

3. Quais benefícios o clube da Fênix trouxe para você?

“Ler para as crianças, ler melhor, ler mais rápido.” Andressa.

“A leitura mais rápida, a importância de ler e novas amizades.” Dayane

“Fiz novos amigos, gostei de ler mais, melhorei a minha fala e o meu conhecimento e aprendi com o livro.” Dalila

4. Como seus pais avaliam sua participação no clube?

“Eles acham legal, acham que lendo mais podemos ser alguém na vida.” Dalila

“Eles acham que é bem melhor para mim, porque eu não sabia ler muito bem, eu não era chegada aos livros.’Dayane

“Ótimo, porque eles querem que eu conheça palavras novas”. Andressa


Em 19 de outubro de 2012-10-22


“Está bom, porque as pessoas estão lendo mais livros e até brigando para ler, estão com boas ideias. Hoje só não foi bom elas estarem agitadas” Gabriel Galdino (6ª série A)

“Eu gosto do clube porque é legal. Eu gosto porque eu gosto de ler, gosto do clube porque está da hora, mais do que festa.” Elisangela Bernardes.(5ªsérie)

“Eu queria que tivesse os 10 do Desventuras em série pra saber o que acontece no final.
Queria que tivesse também mais livros de terror, aventura e suspense, adoro mistério. Eu estou cuidando do livro de poesias, falta terminar de fazer.
Gostei da ideia do clube de leitura, acho que nos ajuda a falar e no conhecimento, é só isso. Ah! “Estou lendo A menina que roubava livros.” Dalila (6ª série D)

“Eu achei bom, porque é muito interessante, tem livros, a pessoa pega e lê.”Joyce (4ª série D)

“Eu li o livro as crônicas de Spiderwick. Eu vim sozinho, não vieram o Jonathan, a Talita e a Giovanna, me senti sozinho, mas eu já estou quase acostumando. Sobre o livro, eu adorei mesmo, eu já assisti o filme, mas o filme não é a mesma coisa do livro..”(Lucas Rodrigues da Silva,6ª série)

“Eu gosto dos novos livros, eu também gosto das novas pessoas que entram no clube. Hoje foi o meu primeiro dia, eu gostei muito. Só que eu queria que tivesse mais livros.”( Sabrina, 4ªF)

“O que foi ruim foi a Talita da 7ª, ela falou que nós só viemos para comer, isso me incomodou, o resto está tudo bem”. O que é bom é a amizade, a união e as leituras.( Laisla, 4ªD)

“Eu gosto dos livros, gosto de vir no clube, é muito legal porque a gente pode falar dos livros, conversar bastante e é muito legal.”(Giovanna, 4ªD)

“Quero ler muitas coisas, só que vou sair do clube porque estou “Rebelde”desde que meu pai morreu e as pessoas não entendem porque eu digo... porque eu o amava muito e ainda o amo. Mas meus ombros estão pesados e a minha cabeça cheia, todo mundo não me entende, ninguém, sou muito mal compreendida ou não entendida. Às vezes, choro pelos cantos porque as pessoas falam coisas que me magoam e a escola é onde fico relaxada, porque é o único lugar onde quase tem sossego. Por causa das minhas atitudes, dos meus atos não sei se virei pro clube  e me desculpa se fiz algo errado aqui também. Eu quero que Deus me perdoe e me ajude e me proteja, faça tudo o que puder para me ajudar a ser feliz. Quero agradecer todas as coisas boas que acontecem comigo, tipo “a minha entrada no clube”. Muito obrigado.” ( Lívia, 4ª D)

“... Eu fico feliz lendo, falando com as pessoas.” ( Ellen, 4ªC)

“Eu gostaria que tivesse os gibis da turma da Mônica Jovem e um livro de instrumentos e eu vou participar da peça do Harry Potter, vou ser o comensal da morte, vou ter um manto. Eu gostei de tudo.”(Renan, 5ªC)

‘Eu Thainá, 6ºC queria que tivesse o livro Diário do vampiro e mais livros sobre artistas antigos ou cantores, só que em português. Estou fazendo o Lupin na peça do Harry Potter. Estou achando muito interessante, adoro meu personagem. Gosto muito do clube é bom porque a gente reencontra os amigos e se diverte. Adoro ler os livros da sala de leitura, eu adoro livro de suspense e sobre cantores antigos e fantasia.”

“Bom, tudo que tem no clube para mim é bom, não tem nada de ruim. Estou lendo o livro Moby Dick (um reconto), é um homem que sempre sonhou em ser baleeiro, por isso ele viajou para a cidade de Nutuchek, onde tinha outros baleeiros. Ele foi dormir em um hotel e lá encontrou um amigo que também queria ser um baleeiro e eles foram procurar um navio.” (Isabele. 5ªA)


“Bom, eu não acho nada de ruim, eu acho que tudo é bom aqui no clube, tudo que tem é legal, eu estou lendo a Armadilha ao contrário e eu gostaria de ler Coração de tinta.” (Matheus dos Anjos, 5ªD)

“Olá, meu nome é Dayane e estou na 5ª série A. Eu quero muito ler o livro Diário de um vampiro, mas não tem no clube de leitura. Eu também queria que a gente assistisse um filme em cada encontro, tipo Harry Potter, Crepúsculo etc. Eu queria que a gente fizesse cada encontro na casa de uma pessoa ou no teatro(auditório da escola).”

“Pra mim está tudo bem, não tem nada ruim, Queria que fosse toda sexta-feira, e que não faltasse ninguém.” ( Débora, 4ª D)

Avaliando o lê pra mim (atividade em que os participantes do clube leem para as crianças menores da escola)

“ Eu gostei muito, mas muito, porque eu ajudei as crianças da 1ª série, eu fiquei com dó da menina porque ela era órfã, aí ela tinha chorado, ela contou da vida dela, é muito triste... eu fiquei lendo com as crianças, eu, a Vitória e o Lincoln... eu nunca vou esquecer disso, é como Criança Esperança, eu ajudei elas...” (Renan, 5ªC)


“ Hoje (9 de outubro), passei o dia inteiro na sala de leitura, gostei porque li para as crianças e me senti importante e me diverti com crianças, fiz amizade, li 12 livros para as crianças, gostei, acho que elas gostaram também, o Rena e o Lincoln também estavam. Hoje foi a festa das crianças e quase todas elas passaram na sala de leitura e eu achei as crianças muito dedicadas e isso ´e importante.” (Vitória, 4ªF)




Fico emocionada quando os vejo passar por mim com um livro embaixo do braço, indo para o clube de leitura.” (Maria Antônia, diretora da escola)























































Festa da diversidade- Clube da Cidade baquirivu

Em 10 de novembro de 2012 ocorreu mais uma edição da Festa da diversidade, que anualmente contempla a diversidade que compõe nossa sociedade e mais especificamente a comunidade que utiliza o Clube da Cidade Baquirivu, em São Miguel Paulista - São Paulo. Ginástica na rua, contação de estórias, banda da EMEF Dom Paulo Rolim Loureiro, Cia de Dança Expressarte, grafitagem. Durante todo esse dia, um sábado, os moradores puderam prestigiar o evento. Abaixo compartilho as fotos do momento da contação de estórias e rodas de leitura.























Estranhos no castelo - 1º capítulo


CRISTINA EMÍLIA

















ESTRANHOS NO CASTELO


























Para minha Mãe - que nunca deixou de me amar e apoiar.

Ao meu amado irmão caçula, companheiro de sempre.

 Aos meninos e meninas que passaram por mim com o propósito de aprender, mas que na verdade muito me ensinaram.

 Para minhas amigas-irmãs Irleide de Souza e Luzia Romero, presentes divinos.









































                                                  A renúncia
           
                                                                



            É véspera de Natal e recordo-me de outros já idos, nenhum em especial. Quando em casa dos pais, somente eu e minha mãe, a sopa fumegando no caldeirão, o fogo aceso dentro de nossa choupana por ser a estação fria. Revejo nossas sombras dançando nas paredes enegrecidas de fumaça. Uma na companhia da outra, a esperar o Divino Menino, já que o pai preferia a companhia dos amigos camponeses e da cerveja. Estaria a mãe sozinha agora? Por que não a chamei para cear comigo esta noite? Ainda a mágoa.  Vivia o irmão ainda? Há anos a sua partida, movida pelo incontido desejo de correr o mundo. Nos últimos anos, ali naquele castelo imenso e gélido, também frios os natais. Não porque indiferentes os convidados, mas porque me fechara ante as mulheres de seda e os homens de metal; silenciara quando entre os orgulhosos e seus relatos de guerra; abstivera-me dos alimentos servidos em rica prataria; recolhera-me diante do farfalhar dos vestidos e o brilho das espadas. Outro natal e a mesa a mesma dos de outrora, fartamente servida: carne de porco e de cabrito assadas, peixes salgados e defumados, pães, doces, molhos, vinhos. Porém outros os comensais, porque prometera a mim mesma esperar o Salvador acompanhada de meus iguais. Meu marido ausente, eu a soberana do castelo. Os criados, animados pelo banquete e pelas canções e representações dos trovadores, comiam e conversavam animadamente, ignaros ainda dos presentes que lhes reservara: lãs, tecidos e agulhas para as mulheres; facas, punhais e mantos para os homens. Sinto-me em família agora. Mas eis que doze homens invadem o salão, interrompendo a ceia. Quem os lidera é o barão, primo do meu marido. Mal consigo disfarçar minha insatisfação: não o esperava, senhor barão. Aparentando indignação, ele diz: que recepção fria, minha prima! Não quis deixá-la sozinha numa noite tão especial. Vim para fazer-lhe companhia e é assim que me recebe? De que outro modo eu poderia recebê-lo, se os guardas lhe permitiram a entrada sem que eu houvesse sido consultada? Não me agrada recebê-lo na ausência do meu marido. Ele ri: ora, prima, que cerimônia é essa? Sou da família e se bem me lembro, o conde, seu marido, costumava deixar a ponte levadiça abaixada. Isso em tempos de paz - argumento – e se ele parte com seus cavaleiros em auxílio do rei é porque estamos em tempos de guerra. Não nos convida a cear, ele diz, ignorando-me. Temerosos, os criados retiram-se do salão, permanecendo apenas os da cozinha, também incumbidos de servir. Penso em pedir que permaneçam em seus lugares, mas bem sei que manter juntos nobreza e criadagem pode me trazer problemas. O barão e seus homens sentam-se e são servidos de vinho. Ceando no salão com os criados, prima? – o barão pergunta – venho em muito boa hora. Parece-me que a ausência do marido não lhe fez bem. Temo por sua saúde e também pela propriedade.  Por que deixar que uma mulher tão frágil se sacrifique de tal modo, carregando o pesado fardo da administração de tamanha extensão de terras e servos? E arremata: como poderia eu permitir que meu primo perca seus bens por tê-los deixado sob a responsabilidade da esposa? Sendo eu da família, é justo que os socorra neste momento de infortúnio. E mirando-me de alto a baixo – ainda mais agora que não anda bem, pois trata como iguais aos que devem nos servir! Não posso mais esperar pela volta do conde, já que dele e de seus cavaleiros não se tem notícias há dois invernos. Sorri e se volta para o prato que lhe é servido. Morde um pedaço de carne, satisfeito. Comenta algo com um de seus amigos. Minha cabeça rodopia. Observo os traços do seu rosto, iluminado pela luz dos círios, os mesmos traços do senhor meu marido, somente o olhar, cortante e frio, destoa. São do mesmo sangue e poderiam ter feito tanto juntos, penso. Mas o barão não deseja alianças. Sempre invejara o conde e agora agarrava a chance de se apropriar do que não lhe pertencia. Sei que não devo permitir, porque prometi ao senhor cuidar de tudo até que voltasse. Mas como impedi-lo se ele agora dentro do castelo e pequeno o número de soldados a meu dispor? Procuro com o olhar o capitão da guarda e o encontro a um canto do salão, calado. Apenas um homem contra doze. O que podíamos nós? Até ali me saíra bem da incumbência recebida. Assim como o senhor meu marido, fazia visitas diárias à aldeia e aos campos cultivados, para manter-me informada e para mostrar aos servos que, sob meu comando, tudo transcorreria como se na presença do senhor. Os primeiros olhares que recebi não transmitiram muita confiança, mas me vali do apoio deste mesmo capitão da guarda, homem considerado entre os camponeses, que me acena com a cabeça enquanto sai discretamente da sala.   Esforcei-me por ser firme e também generosa, tratando a todos com respeito e dignidade. E fui ganhando o respeito dos que me serviam que se sabiam iguais a mim. E talvez por isso esforçaram-se em corresponder à atmosfera estabelecida. Deve saber que tudo está como meu marido deixou e até melhor, disse-lhe, refeita do temor que me invadira, os camponeses produzem, a criação de animais prospera, é boa a produção de vinho e as mulheres fiam. Não há sede, não há fome, não há frio. E ele, abandonando de vez a falsa amabilidade, retruca: vá queixar-se ao rei, minha senhora. Estou aqui para cuidar dos interesses que também são meus. Minha tia morta, meu primo desaparecido, quiçá morto, cuidarei eu de tudo até que retorne, se retornar. E conclui: quanto à senhora, que infortúnio não ter tido filhos com que se ocupar! Mas creio que se contentará em passear no jardim, bordar, ouvir canções dos trovadores, ocupar-se dos seus vestidos, ater-se ao que cabe a uma mulher. Sabe muito bem que não posso queixar-me ao rei – respondo, indignada - pois que ele está fora combatendo. É graças à cobiça dele que meu marido e seus cavaleiros engrossam suas fileiras e me vejo sozinha agora - levanto-me, decidida - neste castelo não são bem-vindos os usurpadores. Peço que saia de minha propriedade!  Sua propriedade? Ele r, sarcástico, esqueceu quem é? Uma simples camponesa! Tem sorte de eu não a expulsar!  Mas não o farei, porque estou sozinho e você também está e acredito que formamos um belo par, diz-me o homem, estendendo-me a mão maliciosa: saiba que eu a quero, diz. Isso não pode ser, pois pertenço a outro. Ele não está aqui para defendê-la. As risadas dos que o acompanham enchem o recinto. O salão e tudo o que há nele giram ao meu redor e meus olhos teimam em lacrimejar. Resisto ao choro, e tremem minhas carnes. Num acesso, atiro-me sobre a mão que me ofende. Derrubo-o e mordo com fúria desconhecida o dedo atrevido. Os gritos do homem renovam minhas forças e movo a cabeça, feito cão furioso, meus cabelos em desalinho. Quero arrancar-lhe o dedo, a mão, tudo. O gosto de sangue aguça minha ira. Os que o acompanham bem que tentam nos separar, mas são abatidos pelo capitão da guarda e seus soldados, que invadem a sala. Sento-me no chão, exausta. O vestido é vermelho agora. Cuspo no chão o pedaço de um dedo. O barão, aos gritos, é arrastado para fora. Os soldados recolhem os corpos do chão. Parto agora, digo, decidida. Como, minha senhora? Pergunta surpreso o capitão da guarda, ainda ofegante da luta: e para onde iria? Seu lugar é aqui, esperando pelo senhor seu marido. O homem me ajuda a levantar do chão: vá descansar, não deixaremos que lhe tomem o castelo. Já providenciei para que o barão seja trancado na cela mais inóspita do castelo. Será tratado a pão e água até que o conde volte. E dirigindo-se aos soldados: Que ninguém mais entre no castelo! Coloquem todos em alerta! Percebo que não me deixarão sair e espero no quarto o avançar da noite. Castelo cerrado, soldados em vigília. Silêncio. Somente as sentinelas fazem à ronda no alto das torres. Só agora me dispo do vestido ensanguentado. Recusei o auxílio das criadas de quarto. Quis somente a mim mesma como companhia. Visto um outro que não de festa, nem de nobreza. É o mesmo com que ali chegara, anos. Tecido grosso, pesado, gasto, desbotado, o vestido de uma camponesa. Mas me envolvo num manto de peles, que faz muito frio. Empunho do castiçal, as chamas incertas. Por detrás da tapeçaria a porta. Desapareço pela passagem secreta. Caminho pela sequência de degraus que descem intermináveis. As teias de aranha e a incerteza do destino não me impedem. Levo pão, que furtei da cozinha. Pena ser inverno, se primavera, teria também as frutas silvestres da floresta. Não importa se eu tiver que comer raízes, desde que livre. Chego à porta que dá numa das passagens secretas da muralha, protegida por arbustos. Sopro o pó da fechadura que me separa dos campos. Minhas mãos tremem. Experimento as chaves do molho que trago comigo. Até que a fechadura estala. Puxo a pesada porta e ela, num ranger, se abre.