segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Dossiê coordenador pedagógico


Todos os artigos, entrevistas, colunas e reportagens da Nova Escola Gestão Escolar - Dossiê Coordenador Pedagógico de junho/julho de 2011 versam sobre o coordenador pedagógico, cuja origem recente da função nasceu da percepção dos responsáveis pelas políticas públicas de que a aprendizagem dos alunos depende diretamente da maneira como o professor ensina. A razão de ser desse cargo e desse profissional é dar condições para que os professores possam ensinar. Essas condições não são de caráter físico, administrativo ou material, mas de formação.
Para que essa edição viesse a público, a Fundação Victor Civita encomendou duas pesquisas à Fundação Carlos Chagas: A formação continuada de professores no Brasil: uma análise das modalidades e práticas – comandada pelas pesquisadoras Cláudia Davis, Marina Muniz Rossa Nunes e Patrícia Cristina Albieri de Almeida. E O coordenador pedagógico e a formação continuada de professores: intenções, tensões e contradições, liderada por Vera Maria Nigro de Souza Placco, Laurinda Ramalho de Almeida e Vera Lúcia Trevisan de Souza.
É esta que dá base à edição. Realizada entre 2010 e 2011, teve duas fases: a quantitativa, 400 coordenadores de 13 capitais brasileiras foram entrevistados por telefone; a qualitativa: entrevistas pessoais mais aprofundadas com 20 coordenadores das cinco regiões do país, os diretores das unidades de ensino onde estão locados e 40 professores.
Perfil – 90% dos coordenadores são mulheres, 88% deram aula na educação básica, 76% tem entre 36 e 55 anos. Embora jovens e experientes não têm identidade profissional definida.  Não têm claro a razão de ser da sua função na escola, nem segurança para realizar um bom trabalho. Atuam sem foco, abraçam afazeres que não são seus e atendem solicitações as mais diversas.
Desvio de função. Acompanham a entrada e a saída dos alunos diariamente, conferem se as classes estão organizadas e limpas, atendem telefonemas de pais e de outros que procuram a escola, assumem classes ao menos uma vez por semana.
Organizam excursões, horários, arquivos e escrevem atas.
Passam boa parte do seu horário recebendo, ouvindo e orientando alunos indisciplinados.
Supervisionam e até buscam soluções para os problemas de má conservação dos prédios.
Organizam festas, gincanas, confeccionam bandeiras, convites, cartazes.

Recolhem alimentos para famílias de alunos carentes, buscam organizações que assistem jovens viciados.
Gestão de equipe. São muitas as dúvidas desse profissional: como receber e enturmar o professor novato? Como legitimar seu papel de formador dos professores se até pouco estava na sala de aula? Como ajudar o professor que tem dificuldade em comunicar o conteúdo? Como lidar com a resistência de alguns professores a mudanças propostas? O que fazer com o professor que vive encaminhando alunos indisciplinados? Como enturmar um professor que tem dificuldade de relacionamento com os colegas? O que fazer para evitar a alta rotatividade de professores? O que fazer com o docente que falta muito? Como assistir às aulas sem parecer um fiscal? O que fazer do docente que só reclama?
Quando tenta formar. Mesmo quando tenta atuar como formador, age como fiscal do professor, porque em suas análises, somente aponta os erros daquele.
A formação do formador. Para ele quem deve formá-lo: Secretarias da Educação (1º), diretor (2º), especialistas ligados às Secretarias (3º), ele mesmo (4º) e as universidades (5º).
 Quem melhor que as Universidades, centros de pesquisa em permanente produção do conhecimento, para auxiliar na formação deles? Elas permanecem, as gestões e vontades políticas mudam a cada novo grupo no poder, principalmente na América latina. As Universidades têm função social, se convocadas contribuirão, porque é do ensino básico que saem seus futuros pesquisadores. Paulo Freire, quando à frente da Secretaria de Educação de São Paulo (1989-1991) pediu o auxilio de especialistas de instituições renomadas de ensino superior de nosso país e eles aceitaram participar da reforma democrática do currículo sem custos para os cofres públicos da cidade. Entendo que não vejam nas Universidades potenciais parceiros já que os cursos de pedagogia e de gestão escolar, em sua maioria, deixam muito a desejar.
A formação que as Secretarias oferecem a elas, é a mesma oferecida aos professores.
A lei também não ajuda. Foram lidas regulamentações de 5 Secretarias e, das 256 funções ligadas ao cargo, apenas 20% são explicitamente formativas.
Como toda boa pesquisa, caminhos e orientações são apontados. Não os cito devido ao espaço.
Senti em certas reportagens muita ênfase no trabalho pedagógico voltado para os índices do IDEB. Como se a função da escola fosse apenas esse. Em nenhum momento foram citados a gestão democrática do ensino, os princípios que a regem, que estão na Constituição.  Não foram citados a participação dos educandos e dos pais nas decisões tomadas na escola. A falta de identidade do coordenador não é o reflexo da falta de identidade de uma escola que insiste num modelo de educação e de gestão escolar não antenados com reivindicações que têm sido feitas desde a Escola Nova? A sociedade carece de uma escola que forme pessoas capazes de geri-la, de participar de suas questões. Então o ensino de matemática, de leitura, de ciências e outras disciplinas não pode fugir dessas questões.
Sem dúvida que o retrato desse profissional, que tem sim um papel relevante na escola e na formação do professor, traçado pela pesquisa e divulgado pela revista é de uma relevância sem par. Mas há outras questões de ensino. Ouso dizer que se não foram citadas é porque os coordenadores não têm clareza delas.

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