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Gestão Escolar - Dossiê Coordenador Pedagógico de junho/julho de 2011 versam
sobre o coordenador pedagógico, cuja origem recente da função nasceu da
percepção dos responsáveis pelas políticas públicas de que a aprendizagem dos
alunos depende diretamente da maneira como o professor ensina. A razão de ser
desse cargo e desse profissional é dar condições para que os professores possam
ensinar. Essas condições não são de caráter físico, administrativo ou material,
mas de formação.
Para que essa edição viesse a público, a Fundação Victor Civita
encomendou duas pesquisas à Fundação Carlos Chagas: A formação continuada de professores no Brasil: uma análise das
modalidades e práticas – comandada pelas pesquisadoras Cláudia Davis, Marina
Muniz Rossa Nunes e Patrícia Cristina Albieri de Almeida. E O coordenador pedagógico e a formação
continuada de professores: intenções, tensões e contradições, liderada por Vera
Maria Nigro de Souza Placco, Laurinda Ramalho de Almeida e Vera Lúcia Trevisan
de Souza.
É esta que dá base à edição. Realizada entre 2010 e 2011, teve duas
fases: a quantitativa, 400 coordenadores de 13 capitais brasileiras foram
entrevistados por telefone; a qualitativa: entrevistas pessoais mais
aprofundadas com 20 coordenadores das cinco regiões do país, os diretores das
unidades de ensino onde estão locados e 40 professores.
Perfil – 90% dos coordenadores
são mulheres, 88% deram aula na educação básica, 76% tem entre 36 e 55 anos.
Embora jovens e experientes não têm identidade profissional definida. Não têm claro a razão de ser da sua função na
escola, nem segurança para realizar um bom trabalho. Atuam sem foco, abraçam afazeres
que não são seus e atendem solicitações as mais diversas.
Desvio de função. Acompanham a
entrada e a saída dos alunos diariamente, conferem se as classes estão
organizadas e limpas, atendem telefonemas de pais e de outros que procuram a
escola, assumem classes ao menos uma vez por semana.
Organizam excursões, horários, arquivos e escrevem atas.
Passam boa parte do seu horário recebendo, ouvindo e orientando alunos
indisciplinados.
Supervisionam e até buscam soluções para os problemas de má conservação
dos prédios.
Organizam festas, gincanas, confeccionam bandeiras, convites, cartazes.
Recolhem alimentos para famílias de alunos carentes, buscam organizações
que assistem jovens viciados.
Gestão de equipe. São muitas
as dúvidas desse profissional: como receber e enturmar o professor novato? Como
legitimar seu papel de formador dos professores se até pouco estava na sala de
aula? Como ajudar o professor que tem dificuldade em comunicar o conteúdo? Como
lidar com a resistência de alguns professores a mudanças propostas? O que fazer
com o professor que vive encaminhando alunos indisciplinados? Como enturmar um
professor que tem dificuldade de relacionamento com os colegas? O que fazer
para evitar a alta rotatividade de professores? O que fazer com o docente que
falta muito? Como assistir às aulas sem parecer um fiscal? O que fazer do
docente que só reclama?
Quando tenta formar. Mesmo
quando tenta atuar como formador, age como fiscal do professor, porque em suas
análises, somente aponta os erros daquele.
A formação do formador. Para
ele quem deve formá-lo: Secretarias da Educação (1º), diretor (2º),
especialistas ligados às Secretarias (3º), ele mesmo (4º) e as universidades
(5º).
Quem melhor que as Universidades,
centros de pesquisa em permanente produção do conhecimento, para auxiliar na
formação deles? Elas permanecem, as gestões e vontades políticas mudam a cada
novo grupo no poder, principalmente na América latina. As Universidades têm
função social, se convocadas contribuirão, porque é do ensino básico que saem
seus futuros pesquisadores. Paulo Freire, quando à frente da Secretaria de
Educação de São Paulo (1989-1991) pediu o auxilio de especialistas de
instituições renomadas de ensino superior de nosso país e eles aceitaram
participar da reforma democrática do currículo sem custos para os cofres públicos
da cidade. Entendo que não vejam nas Universidades potenciais parceiros já que
os cursos de pedagogia e de gestão escolar, em sua maioria, deixam muito a
desejar.
A formação que as Secretarias oferecem a elas, é a mesma oferecida aos
professores.
A lei também não ajuda. Foram lidas regulamentações de 5 Secretarias e,
das 256 funções ligadas ao cargo, apenas 20% são explicitamente formativas.
Como toda boa pesquisa, caminhos e orientações são apontados. Não os cito
devido ao espaço.
Senti em certas reportagens muita ênfase no trabalho pedagógico voltado
para os índices do IDEB. Como se a função da escola fosse apenas esse. Em
nenhum momento foram citados a gestão democrática do ensino, os princípios que
a regem, que estão na Constituição. Não
foram citados a participação dos educandos e dos pais nas decisões tomadas na
escola. A falta de identidade do coordenador não é o reflexo da falta de
identidade de uma escola que insiste num modelo de educação e de gestão escolar
não antenados com reivindicações que têm sido feitas desde a Escola Nova? A sociedade
carece de uma escola que forme pessoas capazes de geri-la, de participar de
suas questões. Então o ensino de matemática, de leitura, de ciências e outras
disciplinas não pode fugir dessas questões.
Sem dúvida que o retrato desse profissional, que tem sim um papel
relevante na escola e na formação do professor, traçado pela pesquisa e
divulgado pela revista é de uma relevância sem par. Mas há outras questões de
ensino. Ouso dizer que se não foram citadas é porque os coordenadores não têm
clareza delas.
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