segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Ainda sobre a leitura de clássicos e a habilidade de ler diferentes gêneros textuais


Quem leu um clássico em sua versão integral lerá um reconto? Não no meu caso. Quer dizer, só o faço a trabalho. Prefiro o contato direto ( nem tão direto assim, já que são traduções). Mas pode ser que o inverso seja verdadeiro. Que uma criança ou jovem, depois de ter lido e gostado de um reconto( muitas vezes ela nem tem claro o que é um clássico, para ela o que importa é se o texto lhe agrada) ao descobrir a mesma história numa versão mais longa decida-se por lê-la.

Um reconto só tem valor para mim se for uma nova obra de arte, ou seja, se mantiver as qualidades de um bom texto e não desvirtuar a obra original. E só bons escritores são capazes dessa façanha.

Nossa escola tem exemplares de A ilha do tesouro o suficiente para toda uma classe. Acho importante que acompanhem enquanto leio para eles - os do 4º ano ainda penam com textos mais longos, se deixados à própria sorte, mas acompanham atentamente quando leio para eles; os do 7ºano receberam cada um uma sacolinha com livros, como presente da Editora Paulus ( A ilha..., contos de Eça de Queirós e sonetos de Shakespeare e de Camões) mas não leram. Das quatro turmas a que perguntei, cada uma delas com 30 alunos, apenas uns três leram e mesmo assim não na íntegra. Os poucos que leem, leem gibis, mangás. Uma garota me disse que tentou ler Crepúsculo mas desistiu, achou difícil. Perguntei o que costumava ler e me disse: poemas. Têm entre 12 e 14 anos.

Há os que não leem nada, há os que mesmo se quisessem teriam dificuldade face a um texto num formato diferente ao que estão acostumados.

A meu ver precisam viver a experiência de ler textos mais longos, outros gêneros. A escola terá falhado com eles se não puderem dar conta de um texto mais extenso, de vocabulário mais amplo. E não tem outro jeito, só lendo com e para eles. O livro sozinho não os seduz e mesmo que seduza são abandonados. precisam de um mediador.


Quanto aos 4º e 7º anos, tomei esta tarefa para mim.

O irônico? Será por meio de um reconto. Eu já o examinei. Douglas Tufano e uma outra pessoa de que não me recordo agora fizeram-no. Gostei do resultado: mantêm o suspense e a leveza do texto, característica desta obra. Mas espero sinceramente, que a experiência seja tão marcante que daqui a alguns anos quando encontrarem a versão original se decidam a lê-la.


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