domingo, 3 de junho de 2012

Hugo Cabret


Ele não acreditou no que viu. Jovens do sétimo ano do fundamental II, com cerca de 13 anos, sentados lado a lado, gastando seus vinte minutos de intervalo lendo. Não, não são estudantes das escolas de elite de São Paulo, aquelas sempre bem colocadas nas avaliações externas promovidas pelo MEC, estados ou municípios brasileiros. São jovens de baixa renda, alguns tendo como casa um único cômodo.
Que livro teria feito essa revolução? Seu nome: A invenção de Hugo Cabret, de Brian Selznick, adquirido pelo Programa Apoio ao Saber, promovido pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que tem como propósito distribuir livros de excelente qualidade aos jovens do ensino fundamental e Médio.
Há quem critique o Programa, argumentando que os jovens não sabem dar valor às obras selecionadas, compradas e distribuídas. Não é o caso desse livro, do seu autor e da editora, que apostaram num formato de obra inusitado. São 534 páginas em preto e branco, recheadas de ilustrações a lápis. Quanto tempo terá levado o autor para elaborar cada imagem, muitas delas em homenagem ao cinema e a seus inventores? Seja qual tenha sido o percurso percorrido pelos idealizadores do livro valeu a pena, pois nesta mesma escola as turmas não agraciadas com a obra foram reivindica-la com a coordenadora pedagógica. O que os encantou, as imagens ou o texto?
São muitas as razões que levam diferentes pessoas a lerem um mesmo livro. A sugestão de um amigo, o apelo publicitário, a curiosidade. O professor citado quis saber o que havia no livro para causar tamanho alvoroço e o pegou para ler. Uma outra professora, ao ouvi-lo falar do episódio procurou por um exemplar e quando viu quem o havia traduzido ficou ainda mais curiosa da obra, ela que é professora de língua portuguesa  e admiradora dos textos desse, que muito tem contribuído com seus livros e estudos, ao desmascarar o preconceito lingüístico, um dos trunfos dos que se mantêm no poder.
A estória de Hugo acontece na Paris de Victor Hugo, mas quase não há referência à beleza da cidade nem a seu grande homônimo. Tal como o personagem mais conhecido do mestre da escrita francesa, o menino Hugo vive entre muros e torres, não os de uma igreja, mas os de uma estação de trem. Ele mantém os relógios em funcionamento, o corcunda tocava os sinos... Hugo é órfão, do pai só lhe restou um autômato e o menino acredita que se conseguir fazer com que ele funcione, receberá uma última mensagem do pai. É difícil para o garoto estar sozinho no mundo. Ao roubar peças de uma loja de brinquedos, acaba por se envolver nos problemas de uma família que posteriormente o adotará.
O texto, que tem um certo suspense e ritmo, é quase que totalmente ofuscado pelas  ilustrações que fazem muito mais que ilustrar a narrativa. É difícil saber se foi proposital, já que texto e imagens estão intimamente relacionados, ora um ora outro levando a narrativa à frente. A descrição textual teria sido substituída pelas imagens? É quase certo que sim, pois o leitor não se dá ao trabalho de imaginar lugares e cenas, já que elas estão distribuídas pelas páginas do livro. É uma obra bonita de se ver, mas que não deixa impressões mais profundas no leitor, não para aqueles acostumados a textos que exigem mais de sua imaginação e intelecto. Mas esse livro não é para esses, é para os jovens, tão próximos da infância ainda e é bem sabido como as ilustrações encantam não apenas a crianças, mas a quase todos os que amam as imagens.

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