No Cd a mesma proposta do seu CD de estréia Vó imbolá, no qual, como
sugere o título, apresenta um trabalho que dialoga ou é fruto das mais diversas
e ricas manifestações musicais presentes em nosso país: tem samba, tem
erudição, tem rap, tem canções de amor, tem canções de protesto...
Mas se no primeiro a participação dos que com ele compartilham o seu
jeito de conceber música é mais sutil, quase que uma segunda voz, só
perceptível aos de ouvidos apurados pela experiência musical, o segundo tem a
participação mais evidenciada. Zeca canta com Gall Costa, com Zeca Pagodinho,
com Chico César, com Zé Ramalho, com Faces do Subúrbio e Rita Ribeiro.
É este o perfil do Zeca: jamais sozinho sempre acompanhado daqueles que,
como ele, têm na música mais que fonte de renda, especo de expressão, de
criação. E como resultado dessa comunhão de vozes, estilos e propostas têm-se
quinze canções, cada uma com a sua beleza. Em Proibida pra mim a voz de um
jovem que se vê ainda despojado da experiência e de conhecimento, mas cheio de
coragem em face do desejado.
Em Vapor barato temos um eco de vozes a cantar o Brasil de ontem que
protestava de modo cifrado porque clandestino e o de hoje que, livre da
ditadura resgata na mesma canção, recentemente interpretada pelo Rappa, numa versão
dançante, sua carga romântica. Gal, exilados, Zeca, Rappa, enamorados. A mesma
canção, tantas vozes.
Em Babylon o hino aos prazeres em resposta ao vazio existencial ou
financeiro por muitos compartilhado. Quantos o cantam sem ter consciência dos
riscos por trás do hedonismo?
Piercing é polêmica porque questiona os novos sentidos para a dor,
atribuídos a ela por quem não sabe do que realmente ela representa. “Tire o seu piercing do caminho que eu quero
passar cm a minha dor” Para que o piercing, por que se ferir, se mutilar?
Em que medida a ostentação dele – um contraste interessante com os dedos cheios
de anéis do general de Vapor barato – confere status, beleza? O que é a dor?
Qual o papel dela se tão presente na trajetória humana? Subjuga ou liberta? Ensina
ou aleija? Ruína ou cinzas da fênix?
Piercing é também cheia de metáforas, característica dos ditos populares:
“O homem inventou a roda, Deus o freio;
O feio inventou a moda e toda moda amou o feio;
Satanás condecorado na tevê tem um programa;
Aqui vive-se à míngua, não tenho papas na língua;
Não trago Paris na alma, minha pátria é minha rima;
Eu perdi no paraíso, mas ganhei inteligência;
O presente não devolve o troco do passado;
Tome logo um engov pra curar sua ressaca da modernidade, matilha de cães
raivosos.
Lugar de ser feliz não é supermercado;
Revólver que ninguém usa não dispara balas;
Pra chegar na minha cama tem que passar pela sala;
Todo mundo quer subir na vida
Se subir espere a descida
Se na hora H o elevador parar ... Sempre vai haver uma escada de serviço;
Tire o seu piercing do caminho que eu quero passar
Eu tenho a palavra certa pra doutor não reclamar;
Mente desperta
que desperta a de quem o escuta. É esse o perfil do Zeca Baleiro. Criativo,
crítico, fraterno. Face de muitas faces. Made in Bazil.
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