segunda-feira, 4 de junho de 2012

O ensino de geometria no ensino fundamental, de Maria da Conceição F. R. Fonseca ( e outras)


São várias autoras, quatro Marias e uma Mônica. Todas mestres ou doutoras em Matemática, todas envolvidas com o ensino superior dessa ciência e com a formação permanente de professores dessa disciplina. Todas preocupadas com o espaço que a geometria tem ocupado nas práticas escolares, mais voltadas para o cálculo, relegando a geometria em último plano.
Esse livro, escrito a dez mãos, resulta de um processo de formação e tem vários propósitos: narrar a trajetória do Projeto de Formação Permanente em Geometria para professores do ensino fundamental I, o Pró-matemática, realizado entre os professores da rede estadual de Minas Gerais das séries iniciais, atuar como instrumento de estudo na formação inicial e permanente de professores do primeiro ciclo, atuar como material de leitura e formação e apoio daqueles que atuam nas equipes de formação de professores nas secretarias estaduais e municipais do país.
O livro é composto das mesmas três perguntas e consequentemente três etapas/ capítulos do trabalho da formação dos professores. As formadoras optaram por um modelo de formação que respeitasse os profissionais da educação, sua experiência, competências e saberes. Por isso não partiram de verdades prontas, antes foram construindo com os professores uma concepção de ensino de geometria amparado na reflexão mobilizada por uma postura investigativa, de todos os participantes. 
A primeira pergunta, que mobilizou a primeira parte do trabalho foi: O que se ensina de geometria? Para respondê-la, os professores, divididos em grupos, foram registrando em cartazes os tópicos em geometria por eles trabalhados nos quatro anos iniciais do fundamental I. Após a apresentação, discussão e defesa do porquê de se ensinar determinados tópicos. Na etapa seguinte, ainda da primeira fase, passaram a analisar o que dizem os PCNs no que se refere ao ensino da geometria. Nova discussão. Na terceira parte, analisaram diferentes livros didáticos trabalhados na rede: em que se assemelhavam em que se distanciavam do que é pedido pelo documento federal.  Também analisaram os anais do II Encontro Nacional de Ensino de Matemática. Neles, viram como a pesquisa sobre a geometria e o ensino dela, bem como a pesquisa sobre a informática como ferramenta para o ensino da matemática têm estado presentes nos meios acadêmicos, sem que, contudo, tais informações cheguem aos professores e à escola básica. Por último, retomaram suas listas iniciais e ao observá-las à luz dos novos saberes adquiridos, foram encontrando incoerências e lacunas no conteúdo e nas metodologias, não condizentes com as mais recentes tendências do ensino de matemática.
O segundo capítulo tratou da segunda pergunta: Quais os conhecimentos em geometria dos professores? Para tanto, as formadoras oportunizaram a discussão das figuras de linguagem portadoras de vocabulário matemático, pedindo aos professores que, também em grupos, discutissem os sentidos para os termos geométricos como círculo vicioso, triângulo amoroso, pessoa quadrada, sociedade piramidal, ver sob outro prisma, aparar as arestas, personagem plano, sair pela tangente. Nos momento de socialização coletiva dos significados dados pelos grupos, as formadoras atuaram ampliando os conceitos dos participantes: o círculo como uma curva fechada de pontos notáveis, porque todos possuem a mesma distância do centro; o triângulo é qualquer polígono de três lados e não apenas os isósceles e os eqüiláteros; pirâmides são sólidos geométricos e não apenas os monumentos egípcios; ver sob outro prisma implica também em ter uma visão distorcida da realidade e não apenas ver sob outro ponto etc.
Nesta segunda fase da formação, os professores foram instados a observar e registrar (desenho) a presença das figuras geométricas nos ambientes. Esse trabalho os fez perceber a dificuldade que enfrentaram ao desenhar, já que frutos de uma educação que pouco valor dá aos momentos de desenho. Neste momento, refletiram sobre o porquê do ensino da geometria, que visa, entre outros, a percepção espacial e estética (dimensão formativa) e a resolução de problemas – formais ou não- e o preparo para o trabalho (dimensão utilitária); refletiram também sobre o espaço que o desenho tem recebido na sala de aula.
Na terceira fase da formação, a pergunta mobilizadora foi: Por que se ensina geometria? Nesta etapa, os grupos de professores resolveram problemas relacionados a medidas e grandezas, problemas do cotidiano, como por exemplo, decidir se um espaço comporta uma piscina de 2000 litros ou duas de 1000 (aqui aprenderam a distinguir volume de capacidade), se a piscina retangular é preferível à redonda, tiveram de discutir qual a melhor opção: azulejar ou pintar com tinta impermeável as paredes de um banheiro. Essas questões tiveram por objetivo exemplificar como os saberes geométricos são necessários a todos, não importando as opções profissionais. Problematizaram o conceito comum entre eles, de que apenas os que se dirigirem a profissões que requeiram conhecimentos geométricos devam ter acesso ao seu ensino.
O livro e o trabalho nele relatado é uma valiosa contribuição para os professores do ensino fundamental I, que pouco ou nenhum contato tiveram com a geometria, seja pelo ensino que receberam quando criança ou jovens, seja por que fizeram Magistério ou Pedagogia, ambos voltadas para metodologias, legislação educacional, história da pedagogia e teorias sobre aprendizagem ou porque, as professoras, dedicadas ao alfabetizar das crianças, deixam a matemática em segundo plano.

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