domingo, 3 de junho de 2012

sobre o livro Santo Antônio - o santo do amor, escrito por Fernando Nuno


Para leitores de textos literários, gênero que possui características difíceis de conceituar, mas fáceis de se perceber já nas primeiras páginas, pode ser difícil engajar-se na leitura de biografias,que na maioria das vezes são escritas por jornalistas, versados na escrita de textos informativos, mas com pouco fôlego para a escrita de textos narrativos, salvo as exceções, há jornalistas que trabalham nas duas frentes: o literário e o informativo, mas os que o fazem com mestria são poucos. Por isso, nem toda biografia é fácil de ser lida e o que mantém o leitor firme no seu propósito de conhecer o biografado resulta mais na sua curiosidade ou admiração pela pessoa biografada do que as qualidades literárias do texto. E se o texto não tiver sido escrito de modo linear levá-la a termino pode ser um dos trabalhos de Hércules. Exemplo a ser citado é uma biografia sobre James Brown com que presenteei um amigo. Ele desistiu da leitura, pois a mesma ia e voltava no tempo, citando fatos da vida do cantor, fatos históricos da América, ações dos do movimento pelos direitos civis... Não é que o texto não tivesse seu valor, o moço, pouco ambientado ao estilo do escritor, pouco identificado com os problemas do negro norte-americano e com a história daquele país não conseguiu ser fisgado pela narrativa.
 A história é quase a mesma com este livro de muitas páginas sobre a existência de Santo Antônio. Embora escrito de forma linear, abunda em fatos históricos e por vezes, durante a leitura da primeira metade do livro, o biografado fica em segundo plano em face das ambições e vícios da Igreja e dos Cruzados.
Mas, a partir de um certo ponto, fica-se compreendendo por que o autor optou por se esmerar em ilustrar de modo tão preciso ( o que deve ter consumido muito tempo de pesquisa) o ambiente em que o rapaz, de origem nobre viveu. Ele fez o que poucos seriam capazes de fazer mesmo nos dias de hoje: não confundiu a Igreja Católica com os homens que a presidiram. Foi um religioso a serviço de um ideal de Igreja há muito esquecido, em meio à riqueza, à pompa e o poder político que a mesma conquistou. E se valeu de sua erudição e eloqüência para reformá-la de dentro. Seus discursos eram capazes de despertar a consciência de poderosos. Pode-se dizer que foi dono de uma inteligência emocional e habilidades interpessoais ímpares, não granjeou inimigos, apesar de seus discursos revelarem os vícios dos homens da Igreja. Mesmo São Francisco de Assis, pouco afeito aos livros, autorizou Antônio a levá-los para sua ordem na ocasião de seu ingresso nela. Assim como os franciscanos fez voto de pobreza e é daí que vem sua fama de santo casamenteiro. Ao receber um pedido de auxílio de uma noiva com poucas posses, juntou as doações que recebera e jogou-as no quarto da moça, ajudando-a a conseguir o dote necessário para o casamento.

Também fez milagres. Pregou aos peixes de um rio, próximo a um dos povoados ao qual fora enviado a pregar. Naquela época, vários movimentos cristãos contrários à Igreja e questionadores de seus hábitos surgiram na Europa e Antônio atuou como um braço não armado da Igreja, que já havia incorrido no uso da força armada para esmagar movimentos opositores.

Homem corajoso e bom, adepto ao jejum e às penitências, foi um grande devoto de Nossa Senhora Aparecida. Escreveu, ensinou e pregou até os últimos momentos de vida. Minutos antes de sua morte, contam que ele viu a imagem do menino Jesus. Quando morreu, teve seu corpo enterrado às escondidas porque o povo queria parte de seu corpo, que acreditavam seria milagroso.
 Ao término da leitura fica claro que o autor optou por detalhar tão minuciosamente o período em que o santo viveu para que o leitor pudesse compreender melhor o homem e que projeto de Igreja e de servidor dela ele teve.
Publicado pela Objetiva

Um comentário:

  1. Gostaria de saber qual foi a bibliografia utilizada para a confecção desse livro, até para que eu possa dirimir algumas duvidas por exemplo de como e porque São Francisco de Assis (conforme citação do autor) era contra a inteligência, cultura e intelectualidade, alem de indicar que o mesmo era muito autoritário e as vezes rude, duro e áspero em suas palavras (ver página 126/127). A saber que, eu não sou religioso, tão pouco seguidor de SFA, mas me ficou essa dúvida e curiosidade por saber da bibliografia para que eu possa elucidar a minha curiosidade. marcel.ribeiro.silva@hotmail.com

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