terça-feira, 3 de abril de 2012

poeminhas sem data


Tributo a Manoel de Barros I

Disfunção da alma: não vê o de lá
Não vê o de dentro
Nem é vista pelo de fora.

Glória da alma: impor guerra
Ao que vem interno
Que aleija, limita o olhar
Obstaculiza a chegança
do Sol
Por entre as pétalas dos sete véus.



Tributo a Manoel de Barros II


Ser chão, para que em mim as árvores cresçam;
Ser casa, para que em mim as famílias floresçam
Ser livro, para que em mim os poetas enlouqueçam;
Ser céu, para que em mim as estrelas apareçam;
ser mulher, para que em mim o meu Amor se aqueça;
Ser vida, para que em mim Deus rejuvenesça.
II
Ser árvore para ter gorjeios,
Ser mar para ter conchas.
III
Dona Adelina Cuê diz que o abandono protege.
Eu digo que o abandono limita.
IV
Um Sol inteiro no corpo do Mar.












Presença

De amor de poesia  e de rosas
É com que faço o meu destino
Não sei fazer conta
Não tenho poupança nem nexo
Tenho por teto o céu
Por veste o Sol
E semeio caridade.
Eu dou o que tenho
o olhar a presença a fé
E aceito o que me dão:
amor poesia e rosas
E sigo distraído.










Peregrino coração

E chega sorrateira
a tristeza.
Não muito gorda
nem viril
que já sei enxergar.
E se a observo
esgueirar-se por entre meu peito e mente
ela não me pega de todo.

Eu a vejo
movendo-se nos entremeios
do meu eu, sofrido coração
até pouco entusiasta,
mensageiro da esperança.
Agora, observador calado,
atento a cada movimento
do pião.
E participa
meio que de banda,
na esquina da desilusão.

E desta posição
que não mata
nem vivifica
dispo-me de qualquer expectativa
e sigo.




Leitura

Se o texto é do tamanho da vida
E a vontade de ler é quase nada,
Titubeia não:
Larga!
Peça a alguém que o fisgue
Com trechos e sentidos instigantes,
Para só então retornar.
Porque ler é perguntar
Pela faca que fere
E pela erva que cura.


Nenhum comentário:

Postar um comentário