Tributo a Manoel de Barros I
Disfunção
da alma: não vê o de lá
Não vê o de
dentro
Nem é vista
pelo de fora.
Glória da
alma: impor guerra
Ao que vem
interno
Que aleija,
limita o olhar
Obstaculiza
a chegança
do Sol
Por entre
as pétalas dos sete véus.
Tributo a Manoel de Barros II
Ser chão,
para que em mim as árvores cresçam;
Ser casa,
para que em mim as famílias floresçam
Ser livro,
para que em mim os poetas enlouqueçam;
Ser céu,
para que em mim as estrelas apareçam;
ser mulher,
para que em mim o meu Amor se aqueça;
Ser vida,
para que em mim Deus
rejuvenesça.
II
Ser árvore
para ter gorjeios,
Ser mar
para ter conchas.
III
Dona
Adelina Cuê diz que o abandono protege.
Eu digo que
o abandono limita.
IV
Um Sol
inteiro no corpo do Mar.
Presença
De amor de
poesia e de rosas
É com que
faço o meu destino
Não sei
fazer conta
Não tenho
poupança nem nexo
Tenho por
teto o céu
Por veste o
Sol
E semeio
caridade.
Eu dou o
que tenho
o olhar a
presença a fé
E aceito o
que me dão:
amor poesia
e rosas
E sigo
distraído.
Peregrino coração
E chega
sorrateira
a tristeza.
Não muito
gorda
nem viril
que já sei
enxergar.
E se a
observo
esgueirar-se
por entre meu peito e mente
ela não me
pega de todo.
Eu a vejo
movendo-se
nos entremeios
do meu
eu, sofrido coração
até pouco
entusiasta,
mensageiro
da esperança.
Agora,
observador calado,
atento a
cada movimento
do pião.
E participa
meio que de
banda,
na esquina
da desilusão.
E desta
posição
que não
mata
nem
vivifica
dispo-me de
qualquer expectativa
e sigo.
Leitura
Se o texto
é do tamanho da vida
E a vontade
de ler é quase nada,
Titubeia
não:
Larga!
Peça a
alguém que o fisgue
Com trechos
e sentidos instigantes,
Para só
então retornar.
Porque ler
é perguntar
Pela faca
que fere
E pela erva
que cura.
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