terça-feira, 3 de abril de 2012

a verdadeira história de pai francisco-poema narrativo infantil


                                         
- Cantam por aí que:
"Pai Francisco entrou na roda
Tocando seu violão
De lá vem seu delegado
E Pai Francisco foi pra prisão
Como ele vem todo requebrado,
parece um boneco desengonçado"

Mas não foi bem assim que a coisa toda aconteceu. A bem da sinceridade...
Pisou no terreiro, todo faceiro
depois de tomar banho de cheiro
Nego Chico, o tocador do lugar
os dedos ágeis a correr
nas rijas cordas do violão
e era lindo de ver como ele trazia
 o corpo elástico em frenético bailar
e do dedilhar fazia surgir
vibrantes fagulhas que iam cair certeiras
em femininos corações

Seu som que era mágico
tirou as mocinhas
 dos seus costumeiros bordados
diariamente criados
e as atraiu para o terreiro iluminado
por estrelas do céu cravejado
e as atraiu para o Chico
o tocador encantado

A zelosa cozinheira largou o mugunzá
lá se foi muito ligeira com o Chico dançar
a costureira deixou seus tecidos
esqueceu a máquina, esqueceu a linha
e da porta de casa, com os olhos a acompanhar
a festa que o Chico dera início, ao luar

Da costumeira janela
a velha comadre
deixou de ser sentinela
passou batom
ajeitou os cabelos
e foi requebrar sem mais rodeios
  
O cheiroso jantar
Que Ana estava a preparar
ficou, dali em diante esquecido no fogão
Ana foi para o quarto
foi trocar o vestidão
por um outro colorido,
por um outro mais rodado
e ousadamente decotado.
E assim, toda bonita
foi ao grupo se juntar

Inté vó Dida
sempre, sempre tão calada
o cachimbo a pitar
não teve como fugir
dos sons que a estavam a seduzir
e se lembrou dos tempos de mocinha
em que dançava umbigada

de suas cadeiras
os antigos passos da dança há muitos esquecidos
ela fez ressurgir
e tudo era ginga
e tudo era quizomba.

E todas formaram
uma roda animada
em torno do Chico
que alegre bailava.
Ele se contorcia
ele rodopiava
teve vez que saltava
teve vez que encolhia
sobre o corpo encurvado
só pra depois se abrir feito sol iluminado
os braços estendidos
o canto maneiro
a chamar para girar
os leves vestidos
as saias em flor
pés descalços no chão


Os homens indignados
de vergonha avermelhados
foram tirar as mulheres
da dança despropositada
mas se viram em aperto
recuaram avexados
pois não houve quem não fosse pelas mulheres ignorado

E deste modo, espantados
sentiram tolhido
o poder que há muito
sobre elas exerciam
correram ao delegado
pedindo providência
era grave a situação, pois que o moço encantado
despertava as mulheres, acendia paixões

O seu delegado não deu importância
"Que é que tem se as mulheres
ensaiem suas danças?"
foi dar uma espiada
assim sem vontade
mas chegando no terreiro
viu Chico pura labareda
que as mulheres enlouquecia
com o seu violão a tocar
e quase que cai de costas
o pobre do seu delegado
pois sua esposa, antes beata
agora qual cigana bailava
rosa vermelha entre os lábios
o pano da saia
seguro pelas mãos
na altura da cintura
as pernas a mostrar
todo mundo que quisesse via...

Ninguém imaginava que a respeitável senhora
era capaz de sacudir
os quadris daquele jeito
ela era toda alegria
as palmas das outras acendia...

E foi assim que Pai Francisco
Foi parar na prisão
o seu crime? despertar
as mulheres do sertão...

6 comentários:

  1. Muito bom. Amei. Contribuiu bastante para o meu trabalho com as crianças do maternal II.

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  2. qual o autor deste poema e qual o ano de sua composição?

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  3. Brinquei muito de pai francisco chicotinho queimado linda rosa juvenil a rosa vermelha atirei o pau no gato o cravo e a rosa e outras muitas ,o gato na tuba do Serafim

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