quarta-feira, 4 de abril de 2012

Uma estória de amor- conto


Sendo a Ostra um molusco, frágil e indefeso ante os perigos do mar, Mãe das Águas dotou-a de uma casca lisa e rósea. Acreditando-se protegida, a Ostra decidiu que era feliz.
Mas, num fim de tarde cinzento, não se sabe por que, Grão de areia acercou-se da Ostra. Era um grãozinho falante, às vezes áspero, às vezes contraditório em seus dizeres, que saíam aos borbotões, principalmente quando entusiasmado por algum assunto.
Ostra, muito segura em sua casca e em sua experiência, fruto das longas horas passadas na observação do mar e de seus habitantes, uma vez ou outra se punha a ouvir o seu novo amigo se este, animado pelo embalo do vaivém das águas, dizia algo engraçado ou profundo.
Mas as águas nem sempre as mesmas. Manhã escura, mar encrespado, ondas rebentando na praia, o Grão, assustado e agora afeiçoado à Ostra, instalou-se sorrateiramente dentro do experiente molusco. Bem que Ostra tentou livrar-se de Grão de areia, mas não houve jeito, este decidira que Ostra seria sua morada e nela fincou bandeira sem pedir licença.
E daquele momento em diante Ostra declarou-se desafortunada porque lhe doía o roçar do áspero grão em seu corpo macio.
 - Oh! Mãe das Águas, por que este serzinho imaturo foi fazer morada justamente em meu ventre? - indagou Ostra, olhando por cima de si as águas turvas, tão perplexa e triste. Mas Mãe das Águas nada respondeu.
 E porque precisava amenizar sua dor, Ostra resolveu que tiraria algum proveito do seu sofrimento. Mas faltava-lhe o equilíbrio: ora via o Grão como um novo amigo, um companheiro de jornada, com o qual compartilharia os seus saberes ora se calava magoada, diante da atitude desonesta do intruso.
E assim viveu por muito tempo Ostra, que não mediu esforços em adaptar-se ao companheiro. Até ela sentiu um dia, que Grão não a incomodava mais.
 E Ostra deu pela falta do desconforto que a presença do companheiro costumava lhe causar.
E os olhos de Ostra se voltaram para o que lhe ia dentro, tatearando pela presença áspera de Grão para pousar numa Pérola brilhante e lisa.
 Mãe das águas sabe o que faz.

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